24.3.10

Roma, 24 de março de 2010, quarta-feira


Domingo é dia de eleições regionais aqui na Itália. Não vimos muita movimentação além de incontáveis cartazes espalhados pela cidade, mas nossa interação com italianos tem sido um pouco restrita. Hoje eu conversei com uma senhora na academia que tinha recém participado de uma discussão entre umas quatro pessoas perto das esteiras elétricas. No vestiário, ela bufava e murmurava alguma coisa. Perguntei o que era (pensei por um momento que falava comigo) e ela me falou: nosso país vai muito mal. E começou a falar de todas as mazelas trazidas pelo governo Berlusconi, o presidente trilionário que é dono de metade da imprensa e de uma boa parcela de indústrias no país. "Os jornalistas não podem falar nada, ninguém pode falar sobre o que está acontecendo. É uma ditadura", ela dizia.

Propaganda do Berlusconi em Nápoli

Começou a falar do estado calamitoso da saúde pública na Itália, que ela por algum motivo conhece bem. Eu então pude falar um pouco da situação do Brasil, da qual ela não sabia nada. Está acontecendo por aqui também uma discussão em torno da água, que o Berlusconi quer privatizar. Foi muito fácil concordar com ela, eu também tenho uma péssima opinião do Berlusconi e do governo de direita italiano. Mas o mais impressionante de tudo foi compreender porque ela estava tão frustrada. Justamente porque os outros três colegas de academia, participantes da discussão, eram a favor do Berlusconi. E defendiam que a Itália estava bem, a crise já havia passado, o país caminhava a passos largos para um futuro promissor. Não sei se isso é um efeito da blindagem da imprensa aqui. É difícil entender porque os italianos são fascinados por este governo... fascista.

Pensando bem, talvez não seja tão difícil de entender assim.


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Hoje dei uma passeada pela piazza Barberini e, ali perto, fui conhecer a igreja Santa Maria Della Vittoria.

Roma é o paraíso para quem gosta de visitar igrejas. Deve haver, certamente, umas boas centenas de igrejas com um considerável valor arquitetônico, além do valor religioso que acho que deve ser o mesmo para qualquer uma.

Essa era especialmente impressionante por causa de uma famosa escultura de Bernini - O Êxtase de Santa Teresa.

Há na igreja um trecho de uma autobiografia da Santa, "O Livro da Vida", em que ela relata as visões que foram responsáveis pelo seus status de santa e pela homenagem na escultura. Ela vê um anjo muito "formoso" que perfura seu coração diversas vezes com uma flecha. A dor é intensa, ela diz, mas não se compara ao que ela sente, "abrasada por um intenso amor de Deus". E continua: "a dor era tão grande que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade excessiva por essa dor intensa que a alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus". A escultura de Bernini, ao que parece, causou um certo frisson, tendo sido rejeitada pelo Vaticano.

Uma turista ao meu lado comentou: "it's kinda crazy".

Vou me furtar a tirar conclusões públicas sobre o que estava vivendo a Santa e que tipo de experiência foi essa, mas deixo a escultura pra vcs, que com certeza é impressionante.


O Êxtase de Santa Tereza - escultura de Bernini - Igreja Santa Maria della Vittoria

detalhe
detalhe

Estátuas do cardeal Federico Cornaro e seus ancestrais,
como em um camarote, assistindo à cena do "Êxtase"

Igreja Santa Maria della Vittoria

Escultura O Sonho de São José - de Domenico Guidi

As ruas em volta da Piazza Barberini são muito bonitas e agradáveis, e a piazza em si é muito simpática, com outra escultura de Bernini representando o deus Tritão. Ali perto também fica a Via Veneto, a única rua que o meu curso de italiano em mp3 conhecia ("dov'é Via Veneto? Via Veneto é qui!"), e também cenário de La Dolce Vita, a rua onde o paparazzo e o Marcello ficavam procurando gente famosa. De acordo com o meu guia, a Via Veneto já viu dias mais glamourosos, e hoje em dia pouco agito acontece por ali. De qualquer forma, um certo charme permanece
Piazza Barberini – Fontana del Tritone – escultor Bernini
Piazza Barberini – Fontana del Tritone – escultor Bernini

fachada do Hotel Bernini

Janela simpática

Lotus laranja

Depois subi pela Via delle Quattro Fontane, para ver as tais Quatro Fontane que nomeiam a rua. É um cruzamento que em cada esquina tem uma fonte, uma mais bonita que a outra. Abaixo, o deus do rio Tevere (Tibre), acompanhado da famosa loba que amamentou Rômulo e Remo na lenda da origem de Roma. E depois, a deusa Juno, representando a Força.

Quattro Fontane - Deus do Tevere

Quattro Fontane - Juno

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