15.3.10

Roma, 14 de março de 2010, segunda-feira

Ontem adentramos o mundo dos brasileiros em Roma. Fomos convidados pela Mariza, amiga dos meus pais lá de Foz e que mora aqui há 4 anos, pra comer uma feijoada na casa dela. Pra nós foi como uma lufada de ar fresco, ar com cheio de feijão e farofa.

Foi um dia muito agradável, aqueles dias com frio e sol que eu adoro em Porto Alegre. Pegamos o ônibus até a casa dela, que fica do lado da Piazza San Petro, no Vaticano. Da janela da sala se vê a cúpula da Basílica, que é uma beleza.

Muitos brasileiros, de todas as idades e de todas as regiões do país estavam lá,nos receberam muito bem. Ficamos até de noite batendo papo e ouvindo histórias de vida incríveis, de gente que já fez de tudo um pouco. Foi muito bom, nos sentirmos em casa de novo.

Carol


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Roma, 13 de março de 2010, sábado


Bella Napoli - por Lucas & Carol

Carol:
Sexta de manhã acordei meio deprê com a história toda do visto (ver dia 11). O Lucas colocou pra tocar aquela música "Cruisin'", que é do Smokey Robinson mas a gente conhece pela Gwyneth Paltrow no filme Duets. E daí eu fiquei ouvindo aquela frase... "baby let's cruise... awaaaay from heeeeere". E aí veio a idéia: vamos viajar?

O Lucas tá meio de folga da universidade essa semana porque todo o grupo dele está em um congresso. Então, topou na hora. Pegamos o mapa pra pensar qual seria nossa direção. Quem sabe... Nápoles?

2h30 de trem depois estávamos lá. Minha primeira viagem de trem de verdade (andei no trem da morte, na Bolívia, mas convenhamos que era bem diferente, embora não menos emocionante). Foi muito divertido, as paisagens eram bonitas (vinhedos, rebanhos de ovelhas, campos...) e nossos vizinhos de trem eram engraçados - uns italianos ricos vestidos de forma ruidosa.

Nápoles, à primeira vista pareceu uma cidade feia. Meio suja, o trânsito completamente confuso, muito pior que Roma. Quase fomos atropelados umas vinte vezes.

Lucas:

Achei legal em Nápoles que a cidade é bem desordenada e muito rica culturalmente. Não sei explicar bem porque uma certa bagunça me deixa contente, talvez porque me faz sentir em casa.

Quando chegamos, pra variar não precisava pagar para usar o metrô - paga quem quer. Isso em Roma se limita ao ônibus, mas no metrô em Nápoles é anarquia total. No fim eu e a Carol sempre pagamos algumas vezes pra não dar chance ao azar, que se pegam a gente é um monte de euros em multa. Descemos do metrô e vimos uma placa solta de um lugar pra ficar e saímos caminhando. Ficamos meio apavorados no começo pelos maus tratos que os prédios e as ruas aparentavam, junto com alguns tipos meio diferentes, imigrantes e tal, além de que um par de vespas quase nos atropelou. Continuamos e, tentando voltar para a rua principal que parecia mais segura, entramos em uma rua muito caótica primeiro com frutas e verduras à venda na rua, depois peixes frescos muito apetitosos e mais tarde todos tipos de roupas e produtos da China à venda nos ambulantes, em vendinhas com lonas em cima. No fundo os prédios cobertos de roupas estendidas, sol, crianças brincando e um trânsito muito agitado e barulhento a poucos centímetros do cara... quanta buzina!! Aliás, outra diferença com Roma é que as vespas são muito mais antigas e portanto com o motor muito barulhento - e nesse caso elas são muitas mais do que carros.



Peixeria em Nápoles

Peixes, polvos, lulas e arraias


Fruteira

Doceria

Bem, não achamos lugar pra ficar mas fiquei muito contente com essas boas vindas. Retomamos nosso caminho ao Museu Arqueológico de Napoles.

Carol:

No Museu, vimos primeiro a Coleção Farnese, que é uma coleção de esculturas romanas em mármore, a grande maioria do séc I e II d.C., que pertenciam à família Farnese, uma família rica e influente na Itália. A maior parte delas são imitações de esculturas gregas, já que a cultura romana foi basicamente construída a partir da herança grega. Ficamos especialmente enternecidos com as bem-desenhadas bundinhas de Afrodite e Hércules...





Coleção Farnese - Museu Arqueológico de Nápolis

Ficamos horas no museu, vendo as esculturas Farnese, objetos encontrados em Pompéia (desde armaduras de gladiadores até pequenos copos de vidro, passando por pedaços do templo de Ísis) e objetos do período neolítico. Fiz amizade com um senhor napolitano que trabalhava no museu, que nos deu boas dicas sobre a cidade (primeiro bate-papo bem sucedido em italiano!).

Achamos um Bed & Breakfast muito charmoso, com um preço razoável, e nos alojamos. Caminhamos mais um pouco por Nápoles, eu comecei a ficar enlouquecida com as promoções de inverno Tudo era muito barato, quase de graça, mas resisti bravamente. Só comprei uma bota no camelô por 5 euros, pra esquentar meus pés nos dias de chuva. A bota obviamente é chinesa, mas isso não importa.


Problema grave atinge a população italiana

À noite comemos uma deliciosa pizza cada um, à moda italiana. Pode parece coisa de gordo, mas a pizza é bem mais leve aqui, com pouco queijo, e a porção individual é uma pizza mesmo. Depois fomos procurar um lugar pra sair à noite, empolgados com a nossa possibilidade de ficar além das 23h30.



Pizzaria Scugnizzi

Ficamos primeiro na praça Bellini, que o guia dizia que era onde o pessoal ficava à noite. Tinha pouca gente ali, os bares estavam vazios, e lá pelas 22h fomos em busca de algo melhor. Dobrando a esquina encontramos o "point", um lugar chamado "Cadences Infernales". É um lugar bem pequeno, cheio de livros e discos que a gente pode ficar xeretando à vontade, gente "descolada" pros padrões italianos e um DJ que fez um dos melhores set-lists que já ouvimos em uns bons anos. Deliramos com cada música. A maioria era desconhecida pra nós, e as conhecidas eram muito boas. A interação com estranhos até aconteceu, mas foi mínima. Ainda não sabemos nos enturmar direito por aqui, mas estamos ficando um pouquinho melhores a cada dia.


DJ no inferninho napolitano

No outro dia, pegamos o Funicolare (funiculi-funiculá!) que é nada mais que um trem-elevador, criado só pra subir um morro, e fomos ao Castel Sant'Telmo. É um castelo que fica no alto de uma colina, de onde se vê toda Nápoles. A vista era deslumbrante. Não vou descrever pra vocês porque as imagens dão uma dimensão do que era.


Vista de Nápoles, com o porto à direita e o Vesúvio ao fundo



À tarde fomos procurar uma exposição de quadrinhos no bairro chiquetésimo de Chiaia, que tínhamos visto em um cartaz. Caminhamos bastante até o museu só pra descobrir que a exposição ainda não estava funcionando. Como na vida de turista nada acontece por acaso, descobrimos que nossa ida a Chiaia não tinha sido à toa. Primeiro que no caminho ficamos nos deliciando com cada esquininha charmosa de Nápoles. Depois, porque ali dava pra chegar até a praia, e tivemos a oportunidade de ver um belo entardecer no mar.



Rua típica em Nápoles

Aqui se joga futebol nas praças...

e se estende as roupas na janela...


Entardecer no mar em Nápoles





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Roma, 11 de março de 2010, quinta-feira

A maratona burocrática

Eu sou uma pessoa sem visto, essa é a triste verdade. Uma mera turista, que pode pisar no solo italiano por não mais do que 90 dias (não só no italiano, no de quase todos países da UE). Eu já sabia disso quando vim pra cá, e que a minha possibilidade de ter um visto se chama "recongiugimento familiare".

Só que pra fazer o tal recongiugimento (que é a possibilidade que eles dão pra uma pessoa com visto - Lucas - chamar os familiares para morarem consigo na Itália), tem uma burocracia muito complexa, a qual nós apenas podíamos vislumbrar antes de hoje. E a burocracia deve ser feita pelo membro com visto - Lucas - enquanto o outro membro da família aguarda pacientemente no Brasil pelo desenrolar da papelada.

Obviamente nós não queríamos ficar meses separados por conta disso, e eu resolvi vir como turista e tentar achar, por aqui, alguma forma mais fácil de conseguir estender um pouco minha estadia. O famoso jeitinho, né? Meu santo graal se chama “permesso di soggiorno”, ou seja, uma pemissão para residir na Itália. Em busca disso, então, fomos hoje.

Primeira parada: Ufficio Imigrazione. Metrô linha B até o final da linha, mais um ônibus para verdadeira periferia de Roma. Não foi difícil achar a parada para descer porque estávamos acompanhados por dezenas de imigrantes, de todas as cores e etnias, falando todas as línguas possíveis e imagináveis. Chegando lá, me lembrei das vezes em que tive de ir ao INSS: um lugar composto de filas de gente querendo uma coisa que o Estado não quer dar.

Soldados do exército nos receberam na porta e nos direcionaram pra uma fila (lógico), onde deveríamos pedir informações a uma mulher protegida por um vidro e um alto falante. Quando chegou a nossa vez, explicamos nossa situação, em italiano, com uma considerável dificuldade. Como boa burocrata, ela nos deu uma resposta negativa (não é possível fazer “permesso di soggiorno” sem visto) e um papel com um endereço: - vocês podem ir até este lugar, ver o que eles podem fazer por vocês.

Outro metrô e uma certa pernada depois, chegamos ao famoso “Sportello Unico”, um prédio que centraliza várias funções burocráticas com a suposta intenção de ser mais eficaz. Subimos com os demais imigrantes à nossa devida fila e ficamos felizes em ver que ali, pelo menos, poderíamos falar com alguém sem um vidro e um alto falante no meio. Duas mulheres fizeram um certo esforço em nos entender e em nos ajudar. Sim, elas disseram, você pode pedir o visto de recongiugimento. Assim que voltar ao Brasil. Ok, eu pensei, nesse ponto já não me importava em voltar ao Brasil, apesar do gasto com as passagens. Como fazemos o visto?, perguntamos. É fácil. Basta a pessoa com o visto – Lucas -, depois de já ter recebido seu permesso de soggiorno, claro, pedir a “Nulla Osta” (outro papel), e a outra pessoa – eu – pede o visto no Brasil. Ok, quanto tempo leva pra chegar o permesso de soggiorno? 3 a 4 meses. E quanto tempo para fazer a Nulla Osta? 6 meses.

Eu saí dali bastante pessimista. Nem voltando ao Brasil e fazendo um novo visto eu tenho chance de ficar aqui pelos 6 meses que queria ficar. São simplesmente 3 meses a mais que o governo italiano não me proporciona.

Se alguém tiver uma luz no fim do túnel, por favor, acenda.

Meio desolados, voltamos pra casa, almoçamos e deixamos pra pensar nisso em outro dia. Quem sabe conversando com as pessoas descobrimos alguma coisa.

A boa notícia do dia: quando voltei pra casa vi a moça da recepção usando a internet em um notebook, com um cabo de rede. Subi pro quarto e coloquei um cabo de rede na entrada na parede e voilá! Temos acesso à internet no nosso quarto! Ficamos bem felizes com a facilidade. O Lucas conseguiu instalar umas geringonças de modo que podemos conectar os dois notebooks ao mesmo tempo. Só que infelizmente descobrimos agora que a internet é disponível só até as 22h30, o que deve ser a hora das ragazze dormirem.


Carol.


Um comentário:

  1. Não se arriscaram a ir no Vesúvio? :)
    Adorei as fotos do por do sol...

    Sobre a situação da tua estada aí: de repente, saindo do Espaço Schengen, recebendo o carimbo de outro país, "zeraria" os teus três meses como turista. Mas não sei se isso funciona realmente, porque eles vão ver que tu não estás vindo do teu país de origem. Seria bom se informar. Uma vez peguei um trem que passou pela Croácia e ganhei um carimbo no passaporte que não é da UE. Mas é difícil ter certeza que isso funciona porque acho que não se consegue confirmar isso oficialmente.

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