24.9.10

Estou em Évora, Portugal, há mais ou menos vinte dias agora. Já sinto aqui como uma nova casa, um novo lar, bem diferente de tudo o que já conheci até hoje.


É uma cidade pequena, com cerca de 50 mil habitantes, e dizem, pouco mais 12 mil no centro histórico cercado por muralhas. Quase todas as casas são brancas, com detalhes em amarelo, o que dá à cidade uma aparência agradável, harmônica, tranquila.




vista da cidade de Évora


Já foi lar de romanos (como quase todas as cidades importantes da Europa Ocidental), mouros e só depois de portugueses, que tiveram de cercá-la para protegê-la dos ataques espanhóis. É transbordante de história, cujas camadas estão à vista em todos os lados, e causa de orgulho para os moradores.


"Templo de Diana”, que agora acredita-se que era realmente dedicado a Júpiter



Nós no Templo de Diana



Lucas





Visão do outro lado do templo





Tem várias igrejas góticas, enormes, de pedra, e a pitoresca “Capela dos Ossos”, construída pelos monges franciscanos para nos lembramos da efemeridade da vida. “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos” é a inscrição na entrada da capela, cujas paredes são sustentadas por fêmurs e crânios de anônimos.


Évora fica no Alentejo, uma região que ainda não sei dizer exatamente como se caracteriza, mas que tem a curiosa função de ser objeto de “piadas de português” entre os portugueses. Conheço pouco de Portugal, mas posso dizer que aqui a vegetação parece ser seca, rasteira, um estilo parecido com o Cerrado brasileiro, mas talvez eu esteja errada. Dizem que chove muito no inverno. Até agora vi uns poucos pingos d´água. O Alentejo é, no entanto, terra fértil, e conhecido por sua produção de azeitonas, uvas e cortiça (aqui se faz coisas inimagináveis com cortiça, além das óbvias rolhas).


O centro histórico é belíssimo, com vielas que têm os nomes mais lindos ou engraçados que eu já vi. Com certeza vou fazer uma coleção de fotos das placas de ruas. A Travessa do Bagulho, a Rua da Freira de Cima, o Beco do Homem Não Barbeado são umas das minhas preferidas...





Travessa do Bagulho



Ruas de Évora




O povo, pelo que pude sentir até agora, é muito gentil e pacato. A praça principal, Praça do Giraldo, está sempre cheia de velhinhos de suspensórios, que sentam-se nos bancos e conversam sobre sei lá o quê. As pessoas se cumprimentam na rua. O caixa do banco me telefona pra falar das questões bancárias, e bate papo comigo na rua quando me encontra, explicando porque me cobraram aquela taxa X e perguntando se eu já achei apartamento. Acho que é o estilo de vida normal de cidades pequenas, mas eu não saberia...





Eu e o Lucas na Praça do Giraldo






Igreja que fica na praça do Giraldo (não sei o nome!)




Arcadas mouras


Prédio de azulejos com arcadas embaixo





Outro lado da praça


Um aspecto interessante e que não combina muito com a minha visão de cidade pequena do interior é que aqui a vida cultural é muito intensa. Tem mostras, exibições, teatros, cinemas, e muitas vezes ocupando espaços gratuitos como a própria praça. Ou seja, não precisa ir até Lisboa pra buscar um pouco de cultura e arte.


Miss E@sy, um grupo musical-comediante que passou por aqui no festival de teatro




Outra coisa muito legal (quer dizer, muito “giro” em português de portugal) que tem aqui é uma enorme piscina municipal. Por apenas 3 euros pode-se passar o dia lá, sem precisar associar-se e sem nenhuma burocracia. É um lugar limpo e bonito, uma delícia no calorão que faz aqui! Outro oásis no meio do bafão evorense são os Jardins Públicos, bem do lado da minha casa, com internet wireless e uma curiosamente grande população de pavões.




Piscinas municipais


Nós depois de um belo banho




Os Jardins Públicos e um dos seus pavões





Ruínas nos Jardins Públicos



Além dos simpáticos moradores e de muitos turistas, em função da universidade a cidade é também cheia de jovens. Essa semana eles estão às voltas com os trotes, ou “praxes”, como chamam aqui, que são tão ou mais cruéis do que os nossos. Os veteranos têm direito a usar o traje tradicional da universidade, uma coisa meio estranha que consiste, para os homens, em um terno preto, com gravata e uma capa preta, e para as mulheres mais ou menos a mesma coisa, mas de saia preta e meia-calça (também de gravata). Essa capa é cheia de emblemas que eles costuram, e que devem ter lá o seu significado. Eu acho meio insalubre, no calor senegalês que faz aqui no verão, ver aqueles jovens encapotados à la Hogwarts, mas são coisas que o status deve compensar.





Ainda não sei muito bem como vou me adaptar à “pacatice” (como diz o Lucas) da cidade, se vai ser bom ou se logo vou estar entediada. Descobri que o meu mestrado vai ser composto só por 3 alunas (em Évora, os outros estão distribuídos em outros 3 países), e que vamos ter aulas só duas ou três vezes por semana. Espero que tenha bastante trabalho e estudo, porque parece não ter muito além disso pra fazer. O silêncio à noite é quase absoluto. Às 22h fecham os restaurantes.


Só sei que é uma vida que eu nunca vivi antes, o que pra mim, em qualquer caso, é algo positivo.




Essa é a visão da minha janela.. O quadro da paz...



Silhueta da Igreja de São Brás à direita



Uma das coisas que com certeza vou fazer é tirar mais fotos da cidade... Desde que cheguei aqui não incorporei o modo “exploradora”, só o modo “preciso achar um apartamento e organizar a minha vida”, então são outros olhos com que eu olhei a cidade.. E ela merece um olhar mais carinhoso, isso é certo.





O Lucas esteve aqui semana passada. Fazia quase três meses que não nos víamos, então pudemos matar bastante a saudade. Ele ficou um pouco mais de uma semana, e me ajudou em todo o processo de escolher apartamento (eu sou péssima com escolhas e fico muito ansiosa) e de organizar a casa nova. Fizemos uma bela faxina e compramos todos os apetrechos que faltavam para meu apartamento de 1 quarto. Tá tudo direitinho, só falta mandar ligar a luz, e para ligar a luz eu preciso do contrato. O contrato, por um desses jeitos portugueses de pensar que fazem a gente inventar piadas, só pode ser feito depois do dia 01. Então tenho que esperar o dia 01 para me mudar. Enquanto isso sigo alugando um quarto numa casa de 3 quartos, no qual sou ainda a unica inquilina e que, portanto, é quase como a minha própria casa. Uma das colegas de casa já chegou, é minha colega do mestrado, mas ela foi aproveitar o verão na praia e deve voltar em breve.


Depois de organizar a casa, eu e o Lucas fomos pra Grenoble, na França. Isso porque eu já tinha comprado desde abril o ingresso pra ver o show do Leonard Cohen, meu cantor preferido. A viagem foi muito boa e as fotos ficaram otimas, mas vou deixar esse post dedicado a Évora, e depois conto o resto.



Abraços pra todos, e não deixem de escrever!



Carol

Um comentário:

  1. Carol, aproveita a vida interiorana que é muito boa :) Tua cidade é linda, adorei as fotos.

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