Roma, 07 de maio de 2010 - agora com FOTOS
Novo lar
Em primeiro lugar, informo que “o lugar de onde falo” (como diria o Lacan) mudou. Já não estou mais escrevendo da casa das digníssimas suore, mas da ótima biblioteca pública com wireless gratuito de Villa Mercede. Isso porque, como eu havia anunciado, nos mudamos.
Fazia um mês mais ou menos que andávamos vendo apartamentos, geralmente na internet, e alguns poucos ao vivo. Depois de um tempo procurando, fomos abandonando a idéia de alugar um apartamento só para nós, ao nos darmos conta do que o nosso orçamento poderia pagar aqui em Roma (por 500 euros poderíamos escolher entre morar na periferia ou morar em um apartamento horroroso, como um que eu vi que parecia um calabouço).
A segunda opção seria dividir um apartamento, alugando uma camera. No início eu tinha dúvidas se não seria a mesma coisa que morar com as suore, pois também teríamos só um quarto, e provavelmente com menos conforto. Mas começamos a ficar entediados com algumas coisas da vida semi-eclesiástica, como ficar ouvindo sermões em italiano na hora da janta ou ter que voltar às pressas dos poucos eventos sociais para não ficar trancado pra fora. Além disso, essa história de jantar três pratos toda noite não andava colaborando muito para a silhueta do casal.
Eu tinha visto há um tempo atrás um quarto pra alugar na casa de uma senhora, que me pareceu bastante simpática. Na época, preferimos ficar mais um tempo nas freiras e procurar um apartamento pra dividir com jovens, onde achávamos que ficaríamos mais à vontade. Fomos ver um cheios de esperança, que dividiríamos com um italiano e um francês, mas ficamos chocados com o nível de porquice que dois jovens homens podem atingir.
Voltamos correndo pra imobiliária e resolvemos ficar com o quarto dessa senhora, que só por milagre não tinha sido alugado nesse tempo. Ele tem um preço bom, fica ainda mais perto da universidade, e agora podemos desfrutar dos confortos de uma cozinha e uma sala, coisa que não tínhamos há muito tempo. É uma casa estilo de vó, com muitos quadros, plantas, porcelanas e um pote cheio de balas. A senhora tem uns 60 anos, é viúva, gosta de cozinhar, limpar (hehehe) e ir ao bingo.
Eu praticamente só estou ali há um dia, mas me parece bom.
----------
Paris
Fui a Paris! Vou me cuidar pra não escrever demais e não entediar os poucos que lêem esse blog, mas realmente eu tenho muita coisa pra contar. Bom, vou escrevendo e vocês decidem se querem ler ou não. Ainda não descarreguei as fotos, mas talvez amanhã eu consiga colocá-las online.
29.04 - Quando cheguei fazia 30 graus. Liguei pro Lucas pedindo uma sandália, porque mesmo de manga curta, ficar de tênis era muito quente. Fui pro albergue AIJ (auberge international de jeunes) que fica perto da Bastille, e é a hospedagem mais barata de Paris. Pela bagatela de 19 euros dividi um quarto com 2 brasileiras, que por coincidência estavam indo para Roma. Elas estavam apavoradas com o calor, e suando ao carregar uma mala cheia de roupas de inverno.
Nesse dia eu tive que ir direto pra Torre Eiffel. Sinceramente não tinha outra opção. Acho que já está gravado no inconsciente esse roteiro. Já era final do dia quando eu cheguei, então fiquei lá assistindo ao entardecer e vendo as luzes da torre se acenderem. É um espetáculo mesmo, dá vontade de colocar uma boina e tocar acordeon.
A prova de que fui a Paris..
Torre ao entardecer
A noite, com os vendedores de miniaturas em frente
Resolvi aproveitar o clima clichê e fui ver o Arco do Triunfo, onde cheguei depois de uma caminhadinha pela av. Kléber (quem diria que esse nome é francês?). Já era de noitinha, e o efeito do Arco do Triunfo iluminado era extraordinário.
Arco do Triunfo
Champs-Elysèes
Caminhei pelo Champs Elysées, só para farejar o lugar-mor de gastação de grana (não que eu fosse deixar um centavo ali). Uma Ferrari vermelha ficava dando voltas, roncando ao máximo o motor (no estilo Magal High Society), moças lindas com modelitos elegantes desfilavam e um punk paramentado sentado sob o muro do Metrô inseria um ponto de interrogação naquele lugar. Cansada, voltei pro albergue, sendo acordada por todos os tipos de gritaria de jovens e pelas colegas de quarto que acordaram às 3 da manhã pra pegar o avião.
30.04 - Tomei o irrisório café da manhã (pão, manteiga, geléia e café solúvel – pelo menos o pão é bom, eu até arrisco a dizer que a baguette parisiense é melhor que os famosos pães italianos em Roma) e na rua vi que o tempo tinha mudado radicalmente. Fazia agora menos de 10 graus e chovia. Bem agasalhada e paramentada, resolvi ir visitar a Sacre-Coeur. A igreja em si não achei nada de mais, achei Notre-Dame e Saint-Chapelle muito mais bonitas, mas o legal é que dali se têm uma vista muito boa de toda a cidade de Paris.
Telhados de Paris
Passeei pelo Montmartre e encontrei, por acaso, o Museu do Dalí. Ele nem está listado nos guias de turismo ou nos mapas da cidade, talvez porque seja um museu particular. Mas eu recomendo muito pra quem for a Paris. Ali não está nenhuma pintura dele, “apenas” as ilustrações que ele fez pras grandes obras da literatura (escolhidas por ele, claro, e que incluem obras inusitadas como “Alice no País das Maravilhas” e “Moisés e o Monoteísmo”, do Freud), móveis surrealistas inventados por ele e, o mais incrível, delirantes esculturas. Todas as obras são fantásticas, cheias de simbolismos e uma liberdade de criação admirável. Algumas fotos, pra dar uma idéia melhor.
O dedo de Deus
Alice no Pais das Maravilhas
O famoso elefante
Fui à Notre-Dame depois, que sem dúvida é a igreja mais linda que eu já vi até agora. Por fora ela é linda, mas por dentro é estonteante. Nunca vi nada igual. Gostei especialmente das naves do fundo, com colunas e abóbadas coloridas, e que depois fui descobrir, eram iguais às da Saint-Chapelle.
fachada da Notre Dame
vitrais
interior da Notre Dame
Depois fui ao Centro Georges Pompidou, que acho que seria o meu lugar preferido se eu morasse em Paris. É simplesmente o tipo de coisa que devia ter no Brasil e que faz da França um pouco do que ela é. Um centro cultural enorme, bonito, agradável e público, onde qualquer um pode entrar, sem qualquer burocracia, e acessar milhares de livros, vídeos, cd's, sobre todos os assunto imagináveis. Fiquei umas duas horas perambulando pela biblioteca, lotada de gente estudando as mais diversas matérias.
Centro Georges Pompidou
À noite, busquei o Lucas em Port Maillot, de onde vinham os ônibus do aeroporto “low-cost” de Beauvais, e fomos para o Quartier Latin comer alguma coisa. Eu queria ter pelo menos uma refeição francesa, e talvez não tenhamos feito a melhor escolha. Comemos em um restaurante com um menu turístico a 10 euros. Eu comi até escargot (!), que na verdade não tem muito gosto, é meio parecido com comer mariscos, e tinha um molho forte então o gosto do molho predominava. Mas não deixou de ser emocionante. Tomamos uma sopa provençal de cordeiro e depois eu comi um crepe de Nutella. :-)
01.05 – Nesse dia, eu e o Lucas fizemos o que chamamos de “não-turismo”. Nem foi de propósito, a gente até tentou ir no Panteon e no museu do Picasso, mas estava tudo fechado porque era 1º de maio (o museu do Picasso, fomos descobrir no outro dia, está fechado até 2012 pra reformas). Fazia frio e sol, e resolvemos pegar duas Velibs (as bicicletas públicas de Paris) e passear pela cidade. Muito divertido. Andamos pelo Marais, Quartier Latin. Fomos ao Jardim de Luxemburgo, descansar (a essas alturas as minhas pernas já eram pura dor muscular de tanto caminhar, e eu mal sabia o que ainda me esperava) e ver as tulipas mais adoráveis que eu já vi. Resolvemos subir a Torre Eiffel, mas a fila interminável nos desanimou, somos turistas preguiçosos que não suportam uma fila. Uma das guardas nos deu a barbada: voltem à noite, é bem tranquilo e muito bonito.
Velib
Descansando no Jardim de Luxemburgo
Tulipas!
Cores
Lucas
No's dois
E passamos um um dia assim, meio aleatório, o que é bom pra realmente sentir o que é a cidade. Na rua, assistimos a um show de uma banda genial chamada Blue Genes, que tocava um blues muito pegado. O Lucas ficou fascinado pelo baixo da menina, que era feito com um cabo de vassoura, um barbante e uma tina de metal.
Blue Genes e seu baixo malucao
Compramos baguette, vinho e queijo pra jantar na rua. À noite, voltamos à Torre Eiffel, mas não nos deixaram subir com as garrafas na mochila. Então, resolvemos jantar ali mesmo, no parque do Trocadero, olhando pra torre bem pertinho. Nada mais romântico.
Nossa vista do piquenique noturno
Na frente do nosso albergue tinha uma loja de discos, e ali eu vi um cartaz pra uma festa “Groove Records”, que seria só com bandas e djs de vinil antigos. Queríamos muito fazer uma noite em Paris, e escolhemos esta festa. Então, depois da Torre Eiffel nos dirigimos ao afamado Moulin Rouge, já que a festa era do lado, em um lugar chamado Machine. Ali me pareceu um bairro de prostitutas comportadas, com algumas sex-shop, um ar pervertido mas tudo bem limpinho e turístico. O lugar da festa era um ambiente enorme, tipo um Opinião só que decorado mais luxuosamente. Bem maior do que o necessário, já que o número de pessoas presentes era, digamos, modesto. Mas mesmo assim, fizemos uma bela festa, porque o som era simplesmente INCRÍVEL! A banda que tocou era genial e o DJ arrasou. Tocou só funk estilo James Brown, com a maioria das músicas desconhecidas até pro Lucas que tem uns 500 Gb de mp3 no computador. Saímos às 4 da manhã e telefonamos pro meu irmão que tinha recém se casado (no Brasil eram 23h), pra dar os parabéns! Depois iniciamos a batalha pra chegar em casa, que só acabou às 6h da manhã. Pegamos o ônibus errado, enfim, foi uma longa história...
02.05 – Não preciso dizer que no outro dia havíamos dado o golpe de misericórdia nas nossas já exaustas pernas de turistas, sem falar na ressaca e no cansaço. Acordamos detonados, mas encaramos o Louvre. Era o primeiro domingo do mês e a entrada era grátis, mas surpreendentemente estava menos cheio do que esperávamos. Claro que não tivemos aquela mesma energia pra ver as trocentas obras de arte que estão ali, mas conseguimos apreciar alguma coisa.
Louvre
Mais telhados de Paris - Jardim das Tuilleries (em frente ao Louvre)
Tuilleries
Nossa cartada de mestre foi pegar o Batobus depois do Louvre. Ali pudemos fazer turismo sentados, navegando pelo Sena. Conseguimos repor um pouco das energias (o Lucas até tirou uma soneca) e ao mesmo tempo aproveitar a cidade, vendo-a de outro jeito.
Batobus
O Seine
Lucas e o Seine
Fomos então (já era, pra mim a 4ª vez) à Torre Eiffel... Subimos, finalmente, aquela construção esquisita, quase congelamos lá em cima, mas valeu a pena. Não deu pra ir até o topo porque já era depois das 22h, mas a vista era incrível.
No's na torre eiffel
Vista
03.05 – Eu tinha uma idéia de talvez sair de Paris, conhecer outra cidade, mas ainda faltava muita coisa pra ver e achei que a cidade certamente valia ficar uma semana. O frio e a chuva não animavam muito uma ida ao campo (na Provence até nevou!). Além disso, estava gostando de fazer as coisas devagar e sem pressa, curtindo realmente a cidade. Não suporto o ritmo acelerado, de “consumo de paisagens” que alguns turistas fazem (olha-tira-foto-vai-embora).
Mudei de albergue neste dia, fui para o BVJ Quartier Latin, mas só pude ficar ali por um dia porque depois eles estavam lotados. Mais caro (paguei 45 por um quarto individual, o único disponível), com café da manhã melhor, instalações melhores e mais canseira pras minhas pernas (me botaram no 6º andar sem elevador). Nessa hora agradeci muito por ter levado só uma mala pequena.
Sem marido (que de manhã cedo voltou a Roma), eu resolvi comprar o Museum Pass de 2 dias. Por 32 euros dá pra ir em todos os museus que quiser. Nesse dia fui ao museu Orangerie, que é maravilhoso. Ali estão, em primeiro lugar, as gigantescas e belíssimas Ninféias de Monet, em duas salas circulares que ele mesmo projetou. Também a coleção de Paul Guillaume, um marchand que colecionava , patrocinava e era amigo de todos os grandes artistas da época. A esposa dele – que talvez o tenha assassinado, numa história meio turbulenta – se endividou e deixou todas as obras para a prefeitura de Paris, que incluem Modiglianis, Gauguins, Soutines, e outros. Além disso tudo, uma exposição temporária do Paul Klee. Uau.
Ainda faminta por arte moderna, voltei ao Georges Pompidou pra ver o Museu que é simplesmente fanástico. Não consegui ver tudo, acho que dá pra ficar um dia inteiro lá. Todas as fases da arte moderna estão muito bem ilustradas, explicadas, e com as principais obras de cada artista.
04.05 – Versailles de manhã e Museu D'Orsay à tarde. Desnecessário dizer que foi tudo muito incrível. Versailles eu gostei mais pra conhecer a história e ver o jardim, porque não sou muito fã de ver aposentos de luxo. Comprei um livro lá, The 7 Ages of Paris, que estou lendo. É de um historiador inglês e conta de um jeito muito interessante a história de Paris, estou adorando.
todo luxo de Versailles
Essa estatua nao pude deixar de achar engraçada..
Até que ponto vai a mania de um rei absolutista?
Louis XIV representado como figura classica romana!
Versailles
Jardim de Versailles
Jardim de Versailles
Museu D'Orsay. Acho que ao lado do Orangerie, é o museu mais interessante de Paris. Trocaria o Louvre por qualquer um dos dois, sem dúvida. Acho que já tive minha cota de arte renascentista na Itália, e os modernos são muito mais interessantes. Renoir, Picasso, Soutine, Van Gogh, Manet, Monet, Degas, e mais um monte de pintores incríveis que eu não conhecia. Um banho de arte.
fotos influenciadas pelos impressionistas (essa é do Lucas)
nova abordagem para uma foto borrada
Nova mudança, fui pro Hotel Rivoli. Já mal acostumada com o quarto individual, não queria voltar pra um albergue movimentado. Esse hotelzinho, bem simpático, super bem localizado e não muito caro (49 euros), valeu cada centavo. Só que sem café da manhã.
Vista da minha janela - Rue Rivoli, ao lado do Hotel de Ville
Maria Antonieta antes da Revoluçao (quadro em Versailles)
Maria Antonieta depois da Revoluçao Francesa, logo antes de
ser guilhotinada (foto no museu da Conciergerie)
Lista dos Guilhotinados (uma parte dela, porque a lista ocupava 3 paredes)
Uma última palavra. Eu não podia deixar de comentar sobre os franceses. Os parisienses, pra ser mais exata. Todo mundo fala mal deles, e eu fui aprender francês justamente por isso. Agora minha opinião com certeza vai ser enviesada porque falei francês o tempo todo (meio mal, mas falei). Eu achei todos adoravelmente simpáticos. Sério. Nem se compara com os romanos! Tu pode ficar horas batendo papo com os garços, que morrem de curiosidade pelo Brasil (ao contrário dos italianos que nunca demonstraram o menor interesse e estão sempre com pressa). Todas as vezes que pedi informação fui muito bem tratada. Além disso eles são por natureza muito bem-educados, sempre pedem desculpas, com licença, por favor. Só dois incidentes macularam a imagem dos franceses. Um foi no primeiro albergue, onde vimos uma cena de descaso com os hóspedes horrorosa, e tivemos uma pequena discussão com um atendente que nos deixou trancados pra fora de madrugada e nem pediu desculpas. Outra foi que eu levei uma OVADA na rua! Sério. Um ovo veio do céu e me atingiu. Por sorte bateu na minha bolsa e não sujou a minha roupa. Não sei o que pensar sobre isso.
Mas, de qualquer forma, só tenho a elogiar a cidade e os seus cidadãos. É tudo muito charmoso, elegante, bonito e espirituoso. Apesar de a antiguidade ser óbvia, senti uma cidade viva, vibrante, jovem (aqui, já não tanto...), mergulhada em arte, inovadora. Foi uma primeira impressão, e bem parcial, com olhos de turista que só viu o centro da cidade. Mas foi a minha impressão.
Semana que vem, Londres! :-)
e foto que é bom nada?
ResponderExcluirÉ, queremos foto! :D
ResponderExcluirAdorei o teu relato e as dicas. Já anotei aqui para ir um dia ao Museu Dalí e ao Machine.
Sobre a tua impressão dos parisenses: acho que a chegada da primavera deve ter contribuído para o bom humor percebido por ti. Eles são chatos mais quando se trata de serviço público, de atendimento em lojas e quando alguém atrapalha o caminho deles, hehehe. Claro que é generalizar, pois existem muitos franceses legais. Um blog que fala um pouco deles é http://linconnudumetro.wordpress.com/. É uma menina que entrevista estranhos no metrô. Além do texto dela ser ótimo, a ideia é genial e a gente percebe que por trás de uma cara amarrada quase sempre há uma pessoa legal :)
Beijocas e boa "trip" em Londres!
Temos o direito de saber como foi em Londres? :D
ResponderExcluir